O que eu desejo pro meu filho aos 40 anos….

Oi pessoal, 

Hoje quero falar um pouco sobre escola.

Acabei de voltar de um curso de 3 dias sobre autismo. Muitas coisas estão aqui na minha cabeça, fazendo ela fritar… mas teve um almoço muito especial que me fez pensar nessa questão de escola.

Estávamos em 3 amigas, conversando sobre escolas e as experiências de cada uma… E num determinado momento, uma das mães disse que ficava feliz por poder participar das reuniões porque ela é compreendida pelas outras mães de crianças especiais (o filho dela estuda numa escola com inclusão social). É muito difícil pra mim, ir na reunião de escola (meu filho estuda numa escola regular), e perceber que ele está a quilômetros de distancia das outras crianças. Ainda não consegue escrever seu nome ou o meu e não tem noção de matemática, AINDA.

De qualquer forma, apesar de saber que ele é capaz e que vai me surpreender e conseguir  se superar, dói demais ouvir mães reclamando que precisam fazer lição de casa, que precisam contar uma historia pra criança na hora de dormir, porque ela pediu. Saibam que eu faria qualquer coisa, para que pudesse fazer essas atividades. Lembrem de mim, quando reclamar de alguma coisa desse tipo.

Voltando à escola….

Nesse almoço, um sentimento de duvida se instalou no meu coração.

Até que ponto, vale a pena deixarmos eles numa escola com inclusão, para nos sentirmos bem, entendam sentir bem por: com conforto, com ausência de julgamento, com foco na atividade que ele é capaz de fazer. Nessa escola, muito provavelmente, mais da metade das crianças terão as mesmas dificuldades que eles, mas também as mesmas facilidades e habilidades.

E por outro lado, Até que ponto vale colocarmos eles numa escola regular. Onde temos crianças que, com toda a pureza e sinceridade de criança, cobram que eles subam um degrau sempre, cobram que eles se comuniquem, cobram da sua participação nas aulas fora do pedagógico, cobram carinhos e retorno para o carinho dado.

Passei alguns dias refletindo sobre isso, e mais uma vez, a experiência das pessoas com quem convivo, a experiência de mães que tem muitos anos a mais que eu nessa caminhada, o carinho delas, me ajudou a decidir.

Antes de dizer o que decidi fazer, preciso ressaltar a importância dos grupos de apoios a pais e famílias. Preciso ressaltar a importância de se sentir amparada, toda vez que alguma duvida surge, preciso dizer que NÃO precisamos inventar a roda sempre. As experiências de outras famílias, podem nos guiar, nos orientar e ajudar a começarmos a caminhar não do começo, mas com 50% das nossas duvidas sanadas.

JÁ vou fazer 3 anos de diagnostico e convivência com o autismo. E há 2 anos, participo de um grupo de pais que sempre compreendem o que passo. Pra quem esta lendo e é pai de criança especial, você sabe o que é quando estamos passando por alguma situação que não podemos contar pra nenhum dos seus amigos, não podemos dividir com a nossa família, porque muito provavelmente eles não vao entender, e fica se sentindo um alien nessa terra. POIS BEM, eu corro para o grupo, choro, dou risada dos meus problemas, pego dicas, dou dicas e assim vamos indo. Dia após dia, vivendo o que preciso todo dia.

Não deixem de procurar um apoio. Seja com grupos de pais que o entendam, seja com um psicólogo ou psiquiatra, Vai fazer diferença pra vocês. Eu garanto!

Foco! Foco Gislaine!

Voltando à escola…….

Desde que o Matheus entrou na escola que ele estuda, TODOS se esforçam para ajuda-lo, incentiva-lo e o estimulam sempre a subir um degrau.

O curso que fiz tinha alguns focos e estudamos muito algumas necessidades que eles precisam ter para terem uma vida saudável.. Um deles era experimentar novas experiências. Vale ressaltar que antes disso, algumas coisas são trabalhadas, mas vou escrever outro texto sobre isso.

Vivenciar novas experiências, requer que eles estejam prontos neurologicamente para tolerar mudanças, para acessar outras pessoas, para viver o novo.

Algumas coisas tem me mostrado que meu filho subiu alguns degraus. Conseguimos retirar a fralda de dia e de noite. Em 2 meses. Nesses mesmos 2 meses, jogamos fora a mamadeira. Pode parecer estranho uma criança de 6 anos estar passando por isso agora e eu achar o máximo ter conseguido fazer isso. Mas, a mamadeira pra ele, era algo que o deixava calmo, tranquilo, como se ele voltasse a ser bebê e não precisasse viver nada do que estava sendo proposto. E a fralda, mais uma forma de conforto. Estou LIVRE ! meu bebê esta crescendo!

E com isso, muitas outras coisas vem acontecendo por aqui. Ele já consegue diferenciar uma das cores primarias (azul), se comunica verbalmente com os amigos, chama os amigos para brincar de adoleta, chama os amigos para brincar de pega pega e agora (essa é quentinha…) queimada!  Participou de um lanche comunitário na escola, que deverá acontecer de mês em mês, com o propósito de inserir na alimentação das crianças coisas saudáveis e SE PERMITIU experimentar um suco novo, bisnaguinha (ele nunca comeu porque a textura é mole e dava ânsia de vômito) e comeu peito de peru e queijo !!!! Mamãe do Céu….jamais imaginei que diria isso 😉

Tem outra experiência que temos vivido há 8 meses que MUDOU nossas vidas e a vida dele em relação aos amigos. A terapia dele é feita na escola. Por 3 dias, ele faz a terapia normal, participa do processo pedagógico, conforme consegue, das aulas externas e uma vez por semana propus que fizemos uma terapia 1X1. Isso significa que umas das crianças da sua sala farão a terapia com ele. E isso é um SUCESSO!

Eu não queria falar mais disso, mas dividir com prazer, as fotos dos momentos dele com a sua turma na escola.

 

P1140335

P1140447

P1140444

P1140428

P1140430

P1140436

P1140413

P1140412

P1140425

P1140388

P1140392

P1140401

P1140333

P1140378

P1140386

P1140273

P1140313

P1140319

P1140453

 

E em relação à minha escolha, em 2014, Matheus irá para uma escola regular.

Sim, vale a pena bancar o lado pedagógico que é atrasado, para que ele possa melhorar sua relação com as pessoas, para que ele aprenda a se comunicar no padrão que precisa, para que ele possa cada vez mais, se permitir, experimentar coisas novas. Vale a pena bancar as reuniões, e as vezes nem ir nelas, e fazer uma reunião só com a coordenadora ou a professora e tratar apenas dos detalhes do meu filho.

Por ELE! Não por mim !

Então, eu termino esse post dizendo o que desejo pro meu filho quando ele tiver quarenta anos…. EU prefiro que ele não saiba escrever direito, não consiga fazer contas alpha numéricas e nem saiba geografia e historia, mas seja cheio de amigos. Sua casa esteja sempre lotada de gente que o ame e queira ajuda-lo. Que os amigos continuem compreendendo suas dificuldades e continuem dispostos a ajuda-lo num momento difícil.

Essa fórmula é a que EU escolhi pra nossa vida. Não é uma regra e nem uma represália a quem pensa diferente. Nesse momento, essa escolha e as atividades propostas a ele tem dado certo e nisso é que devemos acreditar!

Ao infinito e Além!

Beijo Carinhoso,

Gi

11 responses to this post.

  1. Posted by Nilda nogueira on 23/03/2013 at 12:10

    Que lindo GI…vejo que passamos pelos meus problemas…ah! ás vezes tenho tanta vontade de contar historinhas pro Will, eu conto, mas, gostaria que ele entendesse…sobre a escola…eu não tenho coragem de coloca-lo numa regular Ainda…bj. e parabéns pelos avanços do Matheus.

    Responder

  2. Posted by Vagner Cruz on 23/03/2013 at 12:11

    Lindas palavras Gi, tenho certeza q vc é uma vencedora assim como o Matheus. Ele com certeza tem muto orgulho de vc. Hoje e sempre continue assim, nunca mude, pois o bem mais precioso q ele tem na vida se chama Gislaine ou mãe. E agradeço pelo q vc postou, pois ensina q a nossa vida nunca é igual e devemos lutar sempre e nunca desistir, por mais obstáculos q encontramos, e q temos exemplos de vida. Parabéns.

    Responder

  3. Vc passa para o computador tudo oq eu sinto.. fico pensando tanto qdo ouço as mães com crianças típicas, preocupada qdo vão tirar a fralda dos filho do periodo noturno…pq tem que contar historias a eles…enfim…elas nem imaginam oq esses momentos seriam mágicos para a gente. bjs

    Responder

  4. Posted by Abigail on 23/03/2013 at 15:41

    Lindo texto…e mais do que isso vc compartilhar com todas nós mães essa sua trajetória que serve de exemplo por sua dedicação .parabéns……..

    Responder

  5. Posted by Márcia Satyro on 23/03/2013 at 18:05

    ah como eu amo!!!!

    Responder

  6. Posted by Re Oda on 23/03/2013 at 21:39

    Amei, Gi! Vc está certíssima: as escolhas são suas e não esqueça de que sempre serão as acertadas! E vc não está sozinha… eu também me sinto assim nas reuniões mesmo o João estudando onde estuda. Bjão

    Responder

  7. Posted by Ivana on 24/03/2013 at 15:44

    Muito bem, Gi! Sou mãe de um Asperger, e ele estudou em escola regular. Hoje faz faculdade de biomedicina. Foi andando pelo mundo… rsrsrs… Numa palestra do Dr. Salomão, este defendeu que nem sempre a escola regular é ideal. Mas isto para casos em que percebe-se claramente que a criança está sem aprender NADA, sem nenhum convívio… para casos realmente extremados! A felicidade estampada no rosto do seu filho demonstra que vc fez a escolha certa. Ainda assim, haverá momentos de muita dificuldade (aqui nós tivemos), mas dificuldades sempre existe para todos em qualquer situação. A gente supera… bjkisses

    Responder

  8. Posted by Thais Oliveira (mãe da Victoria Princesa) on 24/03/2013 at 19:41

    Sou mãe de uma menina com 16 anos, portadora de Deficiência intelectual (atraso cognitivo) e estuda em classe regular, nossa já passamos por várias situações e seguimos, vc vai ver vai dar certo.

    Responder

  9. Posted by SAMIRA FONSECA on 25/03/2013 at 5:07

    LINDAS FOTOS, TRANSPORTAM TODA SUA EMOÇÃO AO VER AS CONQUISTAS DO SEU FILHO, PARABÉNS!

    Responder

  10. Posted by Roberta on 30/03/2013 at 2:07

    Parabéns pela sinceridade e sensibilidade! Seu filho é lindo e muito amado! Vc não está sozinha nesta luta interior de dúvidas e sentimentos. Compartilhei seu texto com muito carinho. Um abraço afetuoso a vc e ao Mateus.

    Responder

  11. Posted by Michel Oliveira on 15/04/2013 at 15:39

    Realmente certas coisas na vida a gente imagina que nunca vai acontecer conosco, e por esse motivo procuramos nos informar pouco sobre certos assuntos. Achei legal essa questão de procurar conhecer nem que seja só um pouco, de cada probleminha que se passa ao nosso redor, independente de qual seja.
    Confesso que o autismo sempre foi um dos casos ao qual eu sempre tive pouca ou nenhuma informação. Essa sua luta diária e o modo como trata esse caso do Matheus, aumenta minha admiração por vc. Principalmente pelo fato de me abrir os olhos um pouco mais sobre o que se passa ao meu redor.
    Sempre me considerei “bem informado”, daquele tipo de pessoa que sabe falar sobre tudo um pouquinho, mas hj acordei pra ver que estou “anos-luz” disso.
    Parabéns por ser a guerreira que é, e manter sempre no rosto um sorriso, e nas atitudes, a vontade de estar sempre ajudando alguém!!
    Espero que nossa amizade seja algo duradouro e que tenha vindo pra ficar!!!
    Grande abraço pra vc Guerreira!!!! Beijão pra vc e pro Matheus!!

    Responder

Deixar mensagem para Ivana Cancelar resposta

TodosSomosSemelhantes

Um pouco mais sobre a nossa vida...

Uma voz para o autismo

Um pouco mais sobre a nossa vida...